Porque a vida passa
09:39
Há dias que ando querendo
escrever sobre os desenrolares da vida. Nas minhas confusões internas,
posterguei minhas palavras a cada segundo, porque a realidade aterrorizante é
que eu não sabia quais sentenças usar para fazer jus a essa vida fora dos eixos
que foi designada a mim.
De certa forma, sinto que acabei
parando em uma festa confusa, cheia de informações, com um repertório musical
que não faz muito sentido, com gente de todo o lado, de todo o tipo. O
sentimento é de estar presa em uma pista de dança que alterna entre músicas que
me fazem vibrar, dançar e rir incansavelmente e algumas outras que dão vontade
de sentar no chão, fechar os olhos e chorar até tudo passar.
Se tem algo que esquecem de nos
avisar, quando chegamos a esse mundo, é de que é muito sentimento para tão
pouco tempo. A semana começa, e quando vemos o pôr do sol de domingo já bate em
nossas portas. O mês começa, um salário cai em nossas contas e quando vemos, já
acabou o dinheiro e todas as possibilidades de vida daquele curto mês. O ano
começa, e quando vemos, já é dezembro, às luzes piscam, é Natal.
O filho da vizinha já não é mais
criança, seus amigos do jardim de infância nem moram mais na mesma cidade. Seus
pais já estão mais perto do cinquenta do que dos trinta, e vez ou outra, você
se pega conversando de contas, impostos, poupança, casa própria com eles. Seus
avós já estão com os cabelos brancos, tem gente da sua idade se tornando pai e
mãe, tem amiga que você viu crescer se casando.
Você já não mora mais com seus
pais, tem que pagar a conta de luz no final do mês, lidar com a saudade do
passado, compreender as loucuras do presente e se preparar para um futuro que
ninguém sabe, ao certo, o que realmente vai ser. E são nessas horas que você
que percebe que a vida passou.
No fim de tudo, de algum modo
louco, tentamos carregar um pouco de esperança pra toda essa bagunça que nos enviamos.
Talvez vivamos nossas jornadas do herói de forma estranha, e como todo
protagonista decente de uma boa história, temos nossos momentos de descrença,
de receio, de medo desse mundo perverso. Mas então aquele roteirista maluco que
escreve o enredo dos nossos dias trágicos reserva um momento decisivo que nos
põe a prova, que revira nossas confusões, expõe nossos desesperos mais
terríveis. E então percebemos que não podemos ter medo da vida, do porvir, do
futuro, ou de qualquer coisa. Porque, no final das contas, nós sabemos que a
vida passa, e um dia, as luzes se apagam e a música para de tocar.
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