Porque a vida passa

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Há dias que ando querendo escrever sobre os desenrolares da vida. Nas minhas confusões internas, posterguei minhas palavras a cada segundo, porque a realidade aterrorizante é que eu não sabia quais sentenças usar para fazer jus a essa vida fora dos eixos que foi designada a mim.                       

De certa forma, sinto que acabei parando em uma festa confusa, cheia de informações, com um repertório musical que não faz muito sentido, com gente de todo o lado, de todo o tipo. O sentimento é de estar presa em uma pista de dança que alterna entre músicas que me fazem vibrar, dançar e rir incansavelmente e algumas outras que dão vontade de sentar no chão, fechar os olhos e chorar até tudo passar.             

Se tem algo que esquecem de nos avisar, quando chegamos a esse mundo, é de que é muito sentimento para tão pouco tempo. A semana começa, e quando vemos o pôr do sol de domingo já bate em nossas portas. O mês começa, um salário cai em nossas contas e quando vemos, já acabou o dinheiro e todas as possibilidades de vida daquele curto mês. O ano começa, e quando vemos, já é dezembro, às luzes piscam, é Natal.

O filho da vizinha já não é mais criança, seus amigos do jardim de infância nem moram mais na mesma cidade. Seus pais já estão mais perto do cinquenta do que dos trinta, e vez ou outra, você se pega conversando de contas, impostos, poupança, casa própria com eles. Seus avós já estão com os cabelos brancos, tem gente da sua idade se tornando pai e mãe, tem amiga que você viu crescer se casando.                       

Você já não mora mais com seus pais, tem que pagar a conta de luz no final do mês, lidar com a saudade do passado, compreender as loucuras do presente e se preparar para um futuro que ninguém sabe, ao certo, o que realmente vai ser. E são nessas horas que você que percebe que a vida passou.       
                 


No fim de tudo, de algum modo louco, tentamos carregar um pouco de esperança pra toda essa bagunça que nos enviamos. Talvez vivamos nossas jornadas do herói de forma estranha, e como todo protagonista decente de uma boa história, temos nossos momentos de descrença, de receio, de medo desse mundo perverso. Mas então aquele roteirista maluco que escreve o enredo dos nossos dias trágicos reserva um momento decisivo que nos põe a prova, que revira nossas confusões, expõe nossos desesperos mais terríveis. E então percebemos que não podemos ter medo da vida, do porvir, do futuro, ou de qualquer coisa. Porque, no final das contas, nós sabemos que a vida passa, e um dia, as luzes se apagam e a música para de tocar.




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