Relato de uma menina triste

18:00




Eu queria ser melhor. Eu queria não ter tantos conflitos comigo mesma. Queria ser calma, ponderada e controlda. Queria satisfazer os estereótipos da boa moça de família. Queria não questionar tudo, o tempo todo. Já dizia aquele provérbio: "A ignorância é uma benção".
Eu queria ser enxergada por todos como a moça singela, adorável, reprodutora de padrões de comportamento, submissa e que aceita, porque aceitar é a única coisa a ser feita. Queria me ver menos como a ovelha negra da igreja, da família, da sociedade. Queria saber, simplesmente, abaixar a cabeça para o que me dizem. Concordar com tudo que meus pais falam. Queria não discordar. Queria que a submissão corresse mais pelas minhas veias.


Queria ser menos egoísta, uma pessoa boa. Queria representar a paz, mas sei que represento a confusão. Queria não pensar em mim como uma granada, mas eu penso. Queria ter um olhar mis puro. Queria ser mais ingênua, mais limpa dessa corrupção que me cerca. Queria ser compreensiva, queria aceitar melhor tantas diferenças.
Eu queria não querer tantas coisas erradas. Queria só ser melhor. Queria ser mais estudiosa, mais organizada, menos confusa. Queria que os outros me admirassem por ser centrada, determinada, batalhadora, e ao mesmo tempo, certinha. Certinha nos modos, na fala, na ação.

 Eu queria não me afastar constantemente de Deus, queria não perguntar o porquê das coisas todos os dias. Queria ser mais espiritual, queria ter mais fé: em mim, no mundo, em Deus. Eu queria não fazer ninguém chorar, queria ter todo o altruísmo possível, queria ser caridosa, queria amar mais aqueles que estão ao meu redor, queria me apegar mais, me importar mais com os outros.

Eu queria ser motivo de orgulho, nem que fosse para uma pessoa só. Acima de tudo, eu não queria ser uma decepção. Deus sabe que as minhas chances de dar errado são infinitamente maiores do que as de dar certo. Eu já aceitei isso.

Eu sou cheia dos defeitos. Eu sou a personificação do errado, da solidão, da insuficiência. Eu queria mesmo ser melhor, só que eu não sou. É quase como aquelas utopias sociais que eu gosto de discutir. Eu meio que já aceitei isso, sabe? É uma conformação sobre as conquistas que nunca terei, sobre as pessoas que nunca amarei, os filhos que nunca terei, a vida comum que nunca será minha. 
Já tenho a previsão de mim no futuro: sozinha. Não que seja ruim, é só um destino a se cumprir para aquele que não sabe amar, que tem surtos de querer estar sozinhos, dos fadados a um coração confuso. Tudo passa, inclusive a vida. Eu queria ser perfeita para a vida, mas eu não sou. Sinto pelos meus pais, minhas família, meus amigos e colegas. Eu sinto por mim.

A subversão ao tradicional corre em minhas veias, flui tão naturalmente que chega a ser estranho. Eu não sou nada do que esperam. Eu sou a garota que se lembrarão no futuro com a frase: "Como ela deu errado na vida!".
Não sou a heroína de um romance, e talvez, para alguns, até me encaixe no papel da antagonista. As músicas clássicas tocarão, os livros me cercarão e os dias correrão. as pessoas mudarão enquanto eu, de alguma forma, tentarei entender os demônios que se escondem dentro de mim. 
Eu serei a mulher desconhecida da vizinhança, solitária, que é meio estranha. E é isso, tudo bem, eu sou mesmo uma menina triste. Carrego aquela máxima de que só dá para aceitar aquilo que não se poder mudar. Eu queria ser melhor, mas eu não sou. Fazer o quê?



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