Sobre o precipício emocional que é construir novos relacionamentos
16:00Ultimamente, ando percebendo que todo dia é dia para aprender alguma coisa, e é sobre uma das recentes lições que a vida me tem dado que eu resolvi escrever. De modo simplório e ríspido, coloco: Cerque-se de pessoas que deem por você o mesmo tanto que você dá por elas, e principalmente, que estejam na mesma sintonia de vida que você.
Esta reflexão serve para qualquer relacionamento, seja no sentido romântico ou em uma amizade. Encontrar alguém que se importe, de verdade, é duro, raro, complicado. Mas também ser alguém que marca, alguém que ouve, se esforça é um porre, porque construir um relacionamento significa se jogar de um precipício esquisito, onde as emoções são testadas e na entrada tem um placa dizendo “Perigo! Aqui você pode ser traído, machucado, ignorado, ferrar com o seu coração e sair todo quebrado”.
A pior parte de buscar uma vida nova em um lugar novo é ver velhos amigos ficando em outros planos, em outros lugares. Então, tudo aquilo que você levou várias manhãs frias para construir passa a ser encarado de outra forma, porque a vida segue, e mesmo que estar longe não signifique que o sentimento esteja morto, todos precisam levantar da cama e se esforçar para fazer o novo. Todo mundo precisa de novos amigos, novos amores, novos desafios, novas aventuras, novas histórias. E apesar de eu defender piamente um final solitário para cada um de nós, acredito também que viemos ao mundo para que, no meio do trajeto, possamos fazer a diferença na vida de alguém.
Mas como encontrar pessoas em que se possa confiar? Como aceitar o risco que é depositar seu coração na mão de um outro alguém? Como não viver com medo de ser julgada? Como não ter medo de dizer algo e soar como uma boba? No momento em que essas questões surgem no íntimo da minha alma, eu só tenho vontade de pegar o meu cobertor roxo, me trancar no quarto e ficar ali uma infinidade de horas esquisitas.
Todavia, se fosse para escolher uma palavra para definir o que estou escrevendo e sentindo, diria: Reciprocidade é a ordem de hoje. Toda vez que algo surgir em sua vida, basta pensar o quão recíproco é aquilo, o quão verdadeiro são os ditos colocados, o quanto a pessoa que está na sua frente se importa com você.
Estamos em uma época em que tudo passa rápido demais e não dá pra perder tempo com quem não se doa ao mesmo tempo, que não quer te ouvir, que não pergunta se você está realmente bem, que não olha no fundo dos teus olhos e demonstra sinceridade. Todos nós carregamos machucados dos dias passados e das aventuras mal-sucedidas, só que isso não significa que possamos encarar o outro, que passa inocentemente na nossa bagunça, e agir como se ele fosse o passado.
Quando se é criança, se você quer alguém na sua vida, simplesmente vira e diz: "Vamos ser amigos?". Então um outro projeto de gente concorda, as mãos são dadas, e tudo é um belo arco-íris. Só que, ao crescer, a gente pensa mil vezes antes de abrir, antes de entregar, porque o medo se machucar é maior do que tudo.
No fim das contas, não dá para culpar ninguém que carrega os pesos do passado para os dias presentes, por que quem de nós que é essa pessoa evoluída que consegue resolver tudo, seguir em frente e ser uma alma iluminada? Terminamos todos como um bando de estranhos, tristes, perturbados, porque dói se abrir para alguém.
É mais fácil ficar sozinho, no escuro das cavernas que construímos no nosso interior, que abrigam tão cuidadosamente os nossos medos. A verdade é que eu sinto falta de alguns amigos que compartilhei meus dias e que sempre sabiam quando eu estava mal, que, quase que literalmente, me pegavam no colo e diziam que algo ia funcionar, e que eles estariam ali para o que desse e viesse. A preocupação fazia com que eu me sentisse amada.
Sinto que divago loucamente nesse texto, mas acho que é um reflexo da minha confusão interna, certo? Só queria um pouco mais de reciprocidade na minha vida. Quer dizer, eu gostaria de quantidades absurdas de sentimentos recíprocos nos meus dias. Enquanto isso não acontece, eu vou tentando ser melhor, porque talvez o problema de toda essa bagunça seja eu mesma.
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