Conte-me os teus segredos mais profundos

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Tentei dezenas de vezes escrever sobre a vida na última meia-hora. Escrevi e apaguei tantas frases que o papel até rasgou. Um coração atormentado bate aqui dentro de mim, pensando se algo faz sentido.

Existe certo cansaço expresso nos meus olhos que é resultado dessa superficialidade que me entreguei. No meu medo constante de viver, fechei cada porta da minha alma, tranquei cada janela e joguei as chaves em algum canto de mim que eu não sei bem qual é. Nesse meu receio de ser invadida, acabei sentada na calçada na frente de casa, ao fim da noite, pensando o que é que está fora do lugar.

Nesse meu medo de me entregar para a vida, pergunto-me o quanto foi perdido de ser vivido. Não nasci para sofrer, era o que ecoava em minha mente. Não vim a este mundo para ser magoada, era o que batia forte em meu peito. Por fim, não me entreguei, porque meu coração andava e anda muito bem guardado dentro de um cofre pesado.

Acabei em um mar de superficialidade. Terminei em trocas de olhares vazios. Beijei aquele cara que nem lembro o nome. Qual foi o momento exato em que achei que seria melhor deixar de lado a profundidade e manter a vida resumida em conversas sem-graças e toques impessoais?

Quero mais que um beijo que não vai ser lembrado daqui dois meses. Quero mais que uma conversa banal motivada por uma cerveja ruim. Quero mais que um riso calculado, mais que uma piada planejada, mais que todas essas imperfeições do sistema.

Quero saber quais são os sonhos mais profundos de quem está a minha frente, quero conversar até o sol raiar sem perceber que um novo dia está chegando. Quero que as músicas toquem como trilha sonora de uma troca intensa reservada pela vida. Quero compartilhar meus medos, meus receios, minhas vontades. Quero dividir meu doce preferido.


Quero alguém pra rir comigo sem qualquer obrigação. Quero alguém pra sentar junto em uma tarde de domingo, reclamar da vida e da segunda-feira que está vindo. Quero alguém que entenda o meu silêncio, e que permaneça em silêncio comigo. Mas também quero alguém que fale até eu cansar de ouvir. Quero ser lembrada dos meus defeitos, e abraçada nos momentos precisos.

Quero mostrar aquela banda que eu descobri por acaso naquela madrugada da semana passada que eu perdi o sono. Quero ficar sentada na mesa da minha cozinha olhando alguém cozinhar para mim e reclamando da minha falta de organização com a vida.

Quero ouvir reclamações sobre o professor da faculdade, quero lançar olhares de preocupação e compartilhar a briga que me envolvi ontem à tarde. Quero sentir saudades. Quero amizade. Quero troca de energias. Quero saber tudo sobre alguém. Quero contar tudo de mim para alguém. Quero confiança. Quero sentir o que for preciso.

Eu só quero é viver. E amar. Definitivamente, amar.



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