Da série de lições que 2016 me ensinou: Há muito para ser vivido.

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Em algum momento da minha vida, aprendi que escrever é um grande exercício para saber o que é que fica guardado em nossas entranhas. Terminei 2015 deixando um conselho a mim, que dizia o seguinte: Ei, garota. Deixa de ser teimosa, as pessoas não são tão chatas assim. E se são... Bem, você também é chata. Esconda as chaves do seu coração por uns tempos, você anda precisando. Olhe no espelho, encare seu eu interior e pare de se esconder de tudo e de todos, inclusive de si mesma. Medo não é o problema, mas ele nunca anda em sua frente. Deixe o sol entrar nos espaços vazios da sua alma. Abra as cortinas, garota”.

Ah, e como eu abri minhas cortinas! Abri meu coração. Com todo o receio, passei o meu batom vermelho e encostei na beira da pista de dança. Com meus cabelos roxos, disse oi para a garota que eu achava metida na fila do banheiro daquela festa estranha de república. Com o meu jeito de louca, dei minha opinião para aquela pessoa que cruzava comigo no intervalo da faculdade e me deixava envergonhada sem motivo algum. Com aquela ponta de esperança que habitava meu coração, eu passei a deixar minha janela aberta, para ver se ventos diferentes entravam.  

Certa noite, saí de minha casa, sozinha, só com um cabelo despenteado e dez reais no bolso. Sentei, ainda sozinha, naquele bar que mal sabia eu que me acostumaria tanto. Eu achei que ia continuar sozinha. Que doce engano. Sem que eu percebesse, alguém perguntou o porquê de eu estar sozinha. Eu apenas ri. Outra pessoa chegou, e quis ouvir qual era a história da minha vida. De repente, eu estava rindo sobre o tombo daquele cara atrapalhado que pediu para sentar na mesma mesa que a minha.

Quando fui embora para minha casa, com o relógio do meu celular apontando a chegada breve da luz do dia, eu sorri daquele jeito tímido, aquele jeito onde a gente esconde a felicidade em um riso contido para ver se aquilo doido que está sendo sentido não escapa de dentro da gente.

Nem sempre é fácil mudar a vida, tirar todas as roupas do armário e trocar por novas cores. Não é todo dia que dá coragem de encarar cada pedacinho esquisito de nós mesmos. Não é simples deixar o medo escondido debaixo do travesseiro, e ter o atrevimento de querer sentir um frio na barriga.

Acabei aprendendo que a dor é um pressuposto para encarar o que somos. O enfrentamento do conforto, da janela fechada e da música repetida significa abrir a dolorida porta do autoconhecimento. Aprendi que a inquietude diante da vida, o desespero por querer mais e a vontade do diferente nos levam em lugares que jamais se esperamos. E sem que percebamos, a mesa do bar tá cheia, sem lugar pra sentar e tem uma boa dose de barulho acalentando os desesperos que tocam nossas mãos a cada dia.

Se comecei esse ano olhando para quem dançava em qualquer festa estranha que eu acabava indo parar, acabei dançando ao som daquele último sucesso sem-graça, com um riso no rosto. Se comecei passando um batom escuro com todo o receio de borrar e ficar esquisito, hoje coloco meu batom preferido sem nem olhar direito no espelho. E bem, se uns beijos borrarem meu batom, isso não é exatamente um problema, certo?

Vesti as roupas que achei que me deixariam mais bonita e coloquei uma maquiagem que parecia destacar meus olhos. Mas descobri que sair de casa com uma camiseta limpa e um sorriso no rosto tem um valor muito semelhante. Permiti que pessoas entrassem em minha vida. Permiti a mim acabar sentada na calçada vendo o sol nascer com os amigos esquisitos que apareceram após aquela sexta-feira engraçada.

Falei sem medo, assumi as rédeas do que eu estava sentindo, e tentei ser adulta na hora de lidar com os meus problemas. Algumas vezes (muitas vezes) eu falhei, mas tudo bem, porque há tempo para aprender as delícias e as dores da vida.

Se isso aqui fosse um daqueles filmes com uma personagem confusa e cheia de aflições, agora estaria tocando aquela música que rola antes dos créditos finais, que dá aquele ar de emoção e esperança, anunciando que, no fim, tudo deu certo. E sinceramente? Na minha cabeça está tocando. É aquela música que tocava muito nas rádios em 2009 e eu esqueci o nome.

Como não é um filme, eu só estou aqui, na minha cama, sorrindo como uma boba ao capturar cada lembrança que vem em minha mente do ano que se passou. Talvez o riso possua embasamento no tanto de incredulidade que passe em meu coração ao ver que vivi tanto, em tão pouco tempo. A verdade é que nada paga o sentimento de pertencer a si mesmo e de ter orgulho de cada risco 
desenhado, mesmo que a caneta tenha tremido um pouco.


Como toda boa história, a minha não acaba aqui. Tem muito para ser vivido. Isso aqui é só o começo. 

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