Frustrações fora do lugar

23:29



           Só hoje eu vou parar por um minuto. Parar de pensar, de planejar, de tentar, de querer. Por apenas um minuto, fecharei meus olhos e fingirei que as coisas estão no lugar onde elas deveriam estar. Vou deixar aquela música boa tocando, deitarei no sofá, só pra jogar minhas pernas para o ar.
            Vou desligar meu celular, e chacoalhar os ombros pra tudo isso que está pesando em minhas costas. Vou – talvez inutilmente – me livrar dessas bagagens desnecessárias que tenho carregado. Eu não quero mais, eu posso desistir? Não sei quem pode permitir, mas eu não quero mais. Estou tão cansada de lutar contra o mundo, contra o que eu devo fazer, contra o que é errado.
            Por que tudo está fora do lugar? Alguém pode me dizer?
            Estou frustrada com a injustiça que eu vejo todos os dias, e a falta de força em minhas mãos para jogar o que é o certo na cara do mundo. Eu não vou mais tentar respirar. Não vou mais segurar a raiva contida dentro de mim. Isso cansa, pesa, vira um enfado.
            Se tenho tentado certas coisas, desisto neste momento. Está roubando muito de mim, e roubando tanto que nem sei mais quem sou. Qual é a minha essência?
            Onde está a luz do sol penetrando na minha alma e me dando um pouco de paz? Parece que acordo, e corro, corro, corro, e acabo pela total inutilidade me invadindo. Nada mais faz sentido. A vontade de se esconder debaixo das minhas pesadas cobertas já é maior do que a de caminhar e tentar fazer algo dar certo.
            Só hoje, vou entrar em uma bolha, que me afasta deste mundo corrupto. Vou parar pra pensar nas minhas ideologias, nas minhas confusões, nos meus medos. Será que tem um fim esses sentimentos chatos? Ou será que dura a vida toda?   
            E por fim, é tão inútil fazer esse tipo de pergunta. Ninguém me responde mesmo.
            Sinto um espírito de artista crescendo dentro de mim, vendo uma sala vazia, cinza, insuportável de ficar, com grandes janelas de vidro, que dão pra um mundo perdido. Talvez mais perdido do que eu.
            Se eu pudesse, saia correndo, só hoje. Correria até tão agüentar mais. Será que isso tornaria algo melhor?
            Só um dia, eu queria me livrar dos meus monstros interiores. Eu queria que não doesse. Eu queria que algo se encaixasse. E parece que é tudo minha culpa. Por que é? Eu também não sei. Aliás, quando eu sei de algo?

            Mas hoje, eu não quero saber mais. Não quero mais nada. Nem minhas lágrimas, nem meus gritos. Só quero me deitar, e fingir que tudo está bem. 

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