Direções da vida

18:14



Tenho apenas dezessete anos, mas atrevo-me a dizer: como a vida é engraçada. Se hoje alguém pedisse a mim que descrevesse nossa trajetória terrena em uma só palavra, eu diria: Mudança. É tão estranho pensar que a cada segundo estamos evoluindo, mudando, nem que seja apenas um fio de cabelo caindo.
Amanhã acordarei diferente do que acordei hoje, e é incrível como só notamos tais mudanças após dias, semanas, meses, anos. A cada segundo tomamos caminhos diferentes, a cada dia eu me torno mais o que sou realmente. Talvez passemos a dar menos crédito às virtudes do mundo, todavia carregamos uma bagagem maior quanto mais vivermos.
Quem não se lembra dos pensamentos de quando era mais novo e se questiona: “Como não consegui enxergar o que estava bem a minha frente?”. Em alguns minutos, sinto saudade da Duda de treze, catorze anos. Ela fez coisas bem idiotas, acreditou em várias besteiras, falou muitas bobagens. Porém, ela não estava com o mundo berrando em seus ouvidos: “Cresça!”.
É chato esse negócio de ouvir as pessoas dizendo: “Você já é praticamente uma adulta! Pare com essas atitudes infantis!”. Questiono-me: como fazer isso quando me sinto como uma garotinha de dez anos de idade com medo do mundo?
Admito que adquiri uma enorme visão de mundo ao longo dos últimos cinco anos. Em 2011, não tinha a mínima ideia do que era, por exemplo, o feminismo. Só que uma frase ecoa em minha cabeça: “Quero voltar a ser criança! Não quero ser maior de idade! Não quero ir para faculdade! Quero que o tempo pare. Nada mais importa.”
E essa de querer que o tempo dê um tempo? A gente esquece que ele voa demais, nem ouve nosso pedido agonizante para que ele se acalme, vá mais devagar. Ele não se importa conosco, está cumprindo o trabalho dele.
E se não der tempo de eu fazer tudo que pretendo? Isso vai ser horrível. Ou não. Espero que passe a valorizar mais as possibilidades do que os sonhos, porque sonhar é maravilhoso, e nem sempre real. Essa ilusão de que tudo se encaixará é tão boa que nos faz querer que seja verdade. Acontece que não é.
E os amigos? É horrível ter que admitir, não sou a única a tomar minhas direções. Eles também fazem isso. Eles também se vão, com lágrimas ou sorrisos. Ou os dois. Porque eu compartilho tanto de mim com eles, e vice-versa, mas não seguiremos o mesmo caminho, e isso é muito triste. Tanta gente já foi, e eu sinto saudades, mesmo não dizendo.
Apesar de todas as relações familiares, as coisas tontas são feitas com os amigos. Aquele papo furado na praça, todos os risos, piadas sem-graça, situações inconvenientes, festas surpresa, o picolé da hora do almoço... Detalhes que se perdem na imensidão do universo, pontinhos mínimos da vida que não conseguimos segurar.
Simplesmente vai. Talvez só consigamos analisar o real valor de tais simplicidades quando não tem mais, quando vai embora. Mas as recordações que sobram... Ah! Essas valem para o resto da vida. Quando é especial demais, o tempo não consegue arrancar por completo.
Aguardo o dia de minha velhice, sentada sob um pôr-do-sol indescritível, em que a música que eu ouvia nos dias de minha meninice tocar. Então, um lapso de memória estará em meus olhos novamente, e todas as mudanças que terei passado serão como folhas de papel: leves. Livres.
Talvez eu veja que cada mudança, que cada medo, que cada receio foi em vão. Que os momentos ficam, que cada um tem o seu caminho, que a vida não é simples. Mas acima de tudo, que a vida é pra ser vivida.


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5 coment�rios

  1. Ameiii o texto. Achei super legal!
    Bjs

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  2. Amei o texto!! Estou passando por isso. Amigos separados por universidades, a obrigação de amadurecer e a vontade de voltar.
    Beijooos

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    1. Uau.
      Essa obrigação e essa vontade são extremos em nossas vidas.
      Estranho.
      Abraços.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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