A tal da efemeridade

23:04



Hoje é uma sexta-feira e o tempo está daquele jeito mais ou menos. Hoje é sexta-feira e estou sentada na minha varanda. Hoje é sexta-feira e eu estou bebendo uma cerveja meia-boca. Também estou me perguntando sobre o que fiz da minha vida.

As lágrimas correm de modo meio que desesperado, porque a alma não compreende os desesperos dessa vida e só quer se livrar de cada peso. Enfim, estou sentada sob um céu que não mostra estrelas, enquanto as músicas ruins que gosto de ouvir estão tocando. E estou pensando. Pensando sobre a vida, sobre o que foi, sobre o posso fazer para lidar com tudo que é e deixa de ser.

Acho que tudo que estou vivendo é resultado de umas influências do amor, aquele sentimento que jurei nunca sentir, que jurei nunca ceder. Sempre me fiz de forte, de canalha, de séria, de pronta para o que vier. E então veio você. E eu não queria gostar de você. No momento em que você classificou um beijo enquanto efemeridade, eu soube que efemeridade era o que eu menos teria de você.




Eu já deveria saber que eu acabaria sozinha em uma noite de sexta-feira, bebendo a pior cerveja do mercado, pensando quando é que os eixos foram desmanchados. Dói em cada parte do meu corpo reconhecer que amor é aquele negócio que acontece e que a gente só percebe que foi amor quando tudo já aconteceu, sem controle algum.

É dolorido olhar para você, assumo isso de coração aberto. É dolorido ver que cada palavra trocada pertence ao passado. É dolorido beber essa cerveja barata e saber que não vamos mais compartilhar nenhuma cerveja no posto perto de casa.

Eu não sei exatamente quando nos perdemos do que nos tínhamos nos proposto a ser, revejo cada dia da minha vida desde que você entrou nela para que eu possa entender exatamente onde tudo deu errado. A verdade é que não quero seus beijos, nem seus abraços, nem suas palavras doces, nem seus conselhos tão fidedignos a essa vida louca. Eu só queria saber onde deu errado.

Sou obrigada a assumir que sinto sua falta, sinto falta da sua risada boba, da sua falta de entendimento sobre a ironia que fiz no meio da madrugada. Nosso lance não foi uma questão de pele com pele, mas foi algo de mente com mente. Você me entendeu como nunca tinham me entendido antes. Você riu quando eu precisava de um riso. Você cozinhou pra mim quando eu estava com fome. Você me emprestou aquele livro do Sartre só pra comprovar meu jeito de ver a vida. Você foi meu amigo.

De certa forma, sei que fomos o que cada um precisava ser. Sigo em frente, porque é o que me resta. É fato que a vida passa, tudo se modifica, e vamos para novos dias, com toda a bagagem que carregamos enquanto herança dos sentimentos vividos. Levo você no meu coração do modo clichê que estou acostumada a lidar com a vida. Sinto por você ter desaprendido a enxergar os meus desacertos, você era realmente bom nisso.




Nós funcionamos, um para o outro, como uma ponte para o futuro. As histórias do amanhã já estavam escritas para nós desde o primeiro instante que colocamos os olhos um no outro. Começamos já sabendo que o dia seguinte já estava reservado para ser vivido.

Você me magoou, mas você também fez com que eu sentisse coisas que não esperava ver tão cedo nessa vida confusa. Você tirou lágrimas de mim, as quais eu jurei nunca derramar por alguém. Você invadiu uma parte de mim que estava muita bem guardada, tirou meus pés do chão, jogou o que era real em minhas mãos e me deu possibilidades para crescer mais um pouco nessa vida louca.

Não me esqueço de você, assim como eu espero que você não se esqueça daquela poesia niilista que recitei para ti no primeiro dia em que mergulhamos na imensidão que cada um oferecia. Existe um capítulo no livro da minha vida que em que você aparece, e se torna aquele personagem que encanta a todos os leitores. No fundo, todos sabem que o personagem que surgiu não pertence à protagonista da história.

Adeus, caro amigo. Já é hora de por um ponto final nessa história que só pertence ao passado.



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