Dezenove primaveras de uma vida esquisita
16:26
Entre dois extremos, entre vida e morte, entre o primeiro respirar e o último suspiro, lá estamos nós, com as nossas vidinhas medíocres. E vamos seguindo. E a gente acorda, sai correndo porque perdeu a hora. Reclama do bom dia dado pelo porteiro, porque se o dia fosse bom você estaria bem longe dali. Passa metade do tempo olhando para o relógio, esperando que a hora passe mais rápido, o dia termine, e acabe logo em casa.
Você passa o dia cercado de pessoas que não quer estar perto, revira os olhos meia dúzia de vezes, coça a palma da mão pra não xingar as pessoas que você não gosta. Ouve piadas ruins e dá uma risada sem-graça, na falha tentativa de falar para o próprio cérebro que não é tão ruim assim. Olha para o celular, um monte de mensagem, mas deixa pra responder depois, o cansaço é grande demais. Aqueles amigos tão fiéis estão distante porque não há tempo pra conversar e reviver as memórias. Tá tudo muito corrido.
O professor da faculdade continua realizando os mesmos monólogos que tem feito há dez anos, e você olha, com toda incredulidade do mundo, esperando, talvez, que ele queira mudar sua vida no sentido intelectual, e não só alimentar o próprio ego.
Você passa o dia cercado de pessoas que não quer estar perto, revira os olhos meia dúzia de vezes, coça a palma da mão pra não xingar as pessoas que você não gosta. Ouve piadas ruins e dá uma risada sem-graça, na falha tentativa de falar para o próprio cérebro que não é tão ruim assim. Olha para o celular, um monte de mensagem, mas deixa pra responder depois, o cansaço é grande demais. Aqueles amigos tão fiéis estão distante porque não há tempo pra conversar e reviver as memórias. Tá tudo muito corrido.
O professor da faculdade continua realizando os mesmos monólogos que tem feito há dez anos, e você olha, com toda incredulidade do mundo, esperando, talvez, que ele queira mudar sua vida no sentido intelectual, e não só alimentar o próprio ego.

Abre a caixa de e-mail, só tem mais trabalho e mais coisa pra estudar. Não tem sentido algum, mas você continua fazendo, porque algo precisa ser feito, mesmo que não haja o mínimo entendimento sobre o que está acontecendo. Então o fim do dia chega, e você respira aliviado porque já dá pra riscar mais um no calendário. No meio do banho quente, naqueles minutos de salvação e isolamento do mundo, você acaba divagando sobre a praia que você poderia estar, mas não vai porque falta dinheiro, tempo e companhia. A geladeira continua vazia. Quer dizer, tem uma garrafa de água meio vazia, uns temperos esquisitos, um pote com o resto do almoço do final de semana que você nem vai comer, e mais algumas coisas esquisitas.
A cama tá desarrumada, isso já é um clichê. A conta no banco tá com exatos R$1,44, que se duvidar, mal compram um miojo. E é nesse cenário caótico que chegam as notícias que as pessoas estão morrendo. Nem são pessoas tão próximas, mas elas eram amigas dos seus pais, te carregaram no colo, te deram um chocolate quando você era criança.
E você começa a olhar para sua vida, e se perguntar o que anda fazendo com ela. Respira fundo, e lembra que mais uma primavera está se completando. Olha pra trás, o coração aperta, porque talvez a vida tenha passado mais rápido do que imaginava. Se ontem você era criança, hoje não é mais, e amanhã estará ainda mais longe disso.
E você começa a olhar para sua vida, e se perguntar o que anda fazendo com ela. Respira fundo, e lembra que mais uma primavera está se completando. Olha pra trás, o coração aperta, porque talvez a vida tenha passado mais rápido do que imaginava. Se ontem você era criança, hoje não é mais, e amanhã estará ainda mais longe disso.
Alguns dias atrás, completei dezenove anos. E há dias venho tentando escrever sobre os problemas que me meti desde que os dezoito bateram à porta. Escrevi e apaguei diversas vezes. Tentei escrever que mudei. Mas percebi que era só uma ilusão do momento. Os medos continuavam ali, mesmo que eu os enfrentasse em algum momento.
É difícil encontrar um caminho para viver a vida, porque ao contrário do que os grandes romances mostram, não há um plano perfeito acima de nós. Ao completar dezenove primaveras, dei de cara com o velório de uma amiga da família, querida, com muitas histórias para serem vividas. Revi velhos amigos do colégio que foram meus parceiros nas primeiras vezes da vida. Acabei o dia no casamento de uma garota que foi criança junto a mim.
Dezenove primaveras. E uma folha em branco. Aparentemente, é tudo o que eu tenho. Ah, é claro que possuo uma centena de palavras esquisitas e confusas dentro de mim. Também possuo em mim o sentimento de não saber o que escrever. De não saber o que dizer sobre o que eu era ou o que ando sendo. Sei que as mudanças aconteceram, e tive a certeza sobre isso quando lágrimas correram no meu rosto pelo medo de lidar com a morte.
Ri ao olhar para o passado com a estranheza de que esperava ser algo mais adulta aos dezenove do que realmente sou. Tenho percebido, cada vez mais, que a liberdade de se arriscar e de arriscar tudo o que a vida é, é uma virtude preciosa. Jogar tudo para o alto em nome do famoso se encontrar é um ato da coragem mais insana. Talvez tenha percebido que muita gente que fica uma vida inteira presa em coisas das quais nem sabe porque está presa. Só fica, por medo de sair. Só não vai, porque ir é muito difícil.
Das certezas, não posso falar muito. Das dúvidas, estou cansada de falar. Dos medos, decidi escondê-los debaixo da minha cama. Dos amores, abstenho-me de opinar algo. Chego aos dezenove meio perdida na vida. Continuo sem namorado, para tristeza da minha avó. Continuo querendo não casar, e continuo não querendo ser mãe. Continuo passando o começo das madrugadas na varanda da minha casa pensando sobre o que que poderia ser.
Estou cansada de acordar, de me forçar a sair da cama. Estou cansada de cumprir todas as regras, me sinto triste porque eu não entendo mais nada, só sinto uma dor que eu não consigo controlar dentro de mim, e isso é terrível. Não sei se as palavras que estou escrevendo fazem algum sentido, mas só sei que me sinto culpada. De certa forma, é como se eu estivesse me conduzido ao lugar atual. Deixei-me ser conduzida por uma pressão que criei pela necessidade de pensar na minha vida em como um filme desgraçado.
Acho que começo essa nova primavera da minha vida em um inverno emocional intenso, com direito a neve e chuvas torrenciais. Acho que não sei muito sobre o que sou, sobre o que fui ou o que serei. A vida parece embaçada por uma neblina esquisita que ainda não aprendi a lidar.
Dezenove primaveras. Que floresça alguma hora, mesmo que de modo estranho, mesmo que eu não compreenda a cor das flores que aparecerem. Que as minhas indiferenças frente a vida sejam consumidas pelo calor de viver, ainda que doa. Que o amor bata a minha porta, que meu coração termine os dias dessa vida insana de forma mais aliviada do que conturbada. Que a música toque sem parar, e que eu não pare nunca de dançar.
5 coment�rios
Amei. <3
ResponderExcluirAmei, me identifiquei. É foda mesmo
ResponderExcluirAmei, me identifiquei. É foda mesmo
ResponderExcluirFã das suas palavras.
ResponderExcluirDo seu coração.
Da sua força.
De você.
TE AMO!
<3
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