Qual é a maneira adequada para entrar de luto quando parte de si morre?

18:00


Hoje eu estou aqui para falar de como a morte acontece todos os dias, de como dói. Eu estou aqui para falar dela. Ela era minha amiga, muito importante para mim, mas isso não importa para vocês. Ninguém conhecia ela como eu conhecia, ninguém sentia tanto as dores dela como eu sentia. Qual é a maneira adequada para entrar de luto quando parte de si mesmo morre? Ela era eu. E eu não sou mais ela, porque ela não está mais aqui.

Ela tinha certa crença que a vida funcionaria. Não entendo até hoje de onde ela tirava força e mentalidade para acreditar nesse tipo de coisa. Ela sempre foi meu lado positivo, meu lado que dizia que eu ia viver o que há de incrível no mundo, ainda que eu atirasse total descrédito diante de seus pés.

Ela segurou todas as pontas, apertou minhas beiradas e não deixou que meu coração escorregasse para fora. Pelo menos, até hoje. E hoje eu falo de morte porque fui responsável. Assassinei ela. Matei aos poucos, matei nos dias ruins que não tive coragem de levantar da cama, matei quando engoli o choro por medo de parecer fraca, matei quando disse que não era nada e me tranquei no quarto.

Eu sei que ela não está triste comigo. Ela tinha algo de bom em si mesma que eu nunca terei, porque, no fim das contas, ela era o meu lado bom. Ela ria todas as manhãs. Também ouvia pacientemente os outros, mesmo quando tinha vontade de chacoalhar nossos amigos por saber que eles iriam fazer besteira.

Tudo isso que escrevo é uma tentativa falha de deixar um elogio fúnebre para o lado bom que habitava em mim, e foi embora definitivamente alguns instantes atrás. Eu confesso, do fundo da minha alma e desse meu coração dolorido, que eu vou sentir uma saudade maior que a galáxia que habitamos.

Eu vou olhar as fotos que tiramos, e decerto que algum consolo existirá, porque o seu sorriso estará ali, mesmo que acompanhado do meu olhar perdido e triste. Em alguns momentos eu vou implorar pela sua volta, mesmo sabendo que isso não acontecerá.

Quando caio nessa realidade, o vazio que habita dentro de mim e que te sufocou me atormenta ainda mais. E me atormentará, pelo resto dos meus dias malditos, porque eu nunca mais terei você. Nunca mais terei a sua vontade incessante de viver a vida, muito menos a sua vivacidade diária, sem contar o seu olhar malicioso para os caras bonitos.


As músicas podem tocar, porém, não haverá mais sentido algum em ficar dançando loucamente. Um basta aos lugares cheio de vida, porque, ao contrário de ti, existe uma escuridão irritante por trás de meu corpo magro e fraco. Um basta a minha vida, porque ela não faz sentido sem ti. E tudo dói. Uma dor que nunca irá embora, que arderá nos meus membros frágeis para todo sempre.


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