Da série de lições que 2017 me ensinou: Tudo passa, garota

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Hoje é dia dezenove de dezembro de 2017, e na confusão estranha que vivo, sinto que é o momento perfeito para a velha reflexão anual que venho fazendo há tantos anos. Mais um ano que termina, mais um ciclo que se encerra e mais uma vez encontro a dificuldade de colocar em palavras tudo que aprendi durante esse período.

De fato, não sei muito bem onde tudo se iniciou. Hoje, olhando para o passado, sinto que vivi muitos anos em um só. Janeiro soa tão distante, tão frio. O começo do ano soa um outro eu de forma tão gritante que mal consigo mensurar as medidas matemáticas da minha transformação, dos meus entendimentos sobre o mundo.

Além dos clichês sobre sorrir e chorar, tanto foi feito, tantos sentimentos foram vividos. Curiosamente, há poucos registros das minhas primeiras considerações sobre o que 2017 seria. Parte de mim acredita que eu estava com dúvidas sobre tantos assuntos que achei melhor me calar e deixar que o tempo tomasse suas providências. Eu não tinha a mínima ideia do que fazer com a minha vida, contudo um lado do meu eu atrapalhado acreditou que tudo que estava reservado para mim aconteceria.

Lembro-me de conversar com um amigo na primeira semana e brincar que meter o louco era a meta de 2017. E que loucura. Fui ao aniversário de uma amiga muito querida, saí com um garoto que gostava e achei que seria pra sempre, escrevi alguns textos clichês, fui indicada para um estágio na minha área, fiquei sofrendo ao pensar se deveria ou não fazer o estágio, vi uma tia se casar, toquei no piano do Terminal Rodoviário do Tietê, fui para a cidade da minha universidade no meio de janeiro, tive medo, fui entrevistada na Advocacia Geral do Estado, mandei um currículo para a nova balada que abriria na cidade.

Fui contratada para o estágio, fiz entrevista para a tal balada que tinha enviado currículo, matriculei-me na academia, fui a uma festa, chorei nessa festa, escrevi um textão no Facebook sobre a saudade que sentia da minha mãe. Passei em Ciências Sociais na USP, decidi não ir, teve festa na minha república, levamos a primeira bronca de muitas da vizinha, saí da academia porque estava sem tempo, fui contratada para trabalhar de bartender na tal balada da cidade, emagreci cinco quilos.

O semestre da faculdade começou, cortei meu cabelo bem curtinho pra me livrar de todas as energias ruins. Um tweet meu dessa época dizia que eu estava me sentindo leve e sem amarras. Critiquei o Estado, escrevi várias contestações defendendo o Estado, tive um encontro com um cara do Tinder, fiz uma festa de aniversário de vinte anos muito doida, comprei uns presentes para minha família, paguei por uma viagem para Florianópolis que não aconteceu, minha casa foi assaltada, roubaram meu notebook e meu celular, me afastei do Movimento Estudantil, do Coletivo Tarsilas e do Levante Popular da Juventude.

Passei uma semana em São Paulo, fiquei doze horas na maternidade com minha tia e com meu priminho recém-nascido, vi meu pai receber uma missão muito especial, dei uma volta na 25 de março e comprei muitas maquiagens. Aprendi a me maquiar, senti felicidades doidas enquanto trabalhava na madrugada servindo cervejas, comprei uma escrivaninha, fiz meu primeiro boleto para comprar uma cama de casal.

Tive um encontro legal no Dia dos Namorados, recebi a visita de um de meus melhores amigos na minha casa, consegui uma bolsa de pesquisa, decidi sair do estágio para me dedicar aos meus ideais de carreira acadêmica, minha casa foi assaltada de novo, tive que expulsar um membro da república, chorei, tive uma crise de ansiedade, fiquei uns dias trancada no quarto, visitei meus pais, tive alguns encontros no meu antigo bar favorito.

Segundo semestre começou, questionei minha faculdade mais uma vez. Apaixonei-me por um paraguaio, acompanhei meus avós na primeira viagem de avião deles. Deitei na beira da piscina e bebi um mojito. Visitei uma das sete maravilhas do mundo, mas foi com a humanidade e com a grandiosidade de Itaipu que eu me encantei. Fui parar na UPA mais uma vez. Uma médica incrível me atendeu e ficou uma hora conversando comigo no meio da madrugada até eu me acalmar. Comecei a tomar um remédio para ansiedade, voltei para a terapia. Tranquei-me entre as paredes do meu quarto junto com a minha covardia, tentei acreditar que os dias seriam bons outra vez.

Fui a uma festa com todas as pessoas que moravam comigo, me diverti, fiquei com um cara legal. Estudei sobre igualdade substantiva, escrevi meia dúzia de páginas para um artigo, busquei forças para me reanimar com a faculdade. Chorei mais algumas vezes. Quis fazer minhas malas e sair correndo para a casa dos meus pais. Assisti um monte de audiências para cumprir minha pasta de estágio, estudei mais um pouco sobre coisas que pouco tinham a ver com o meu curso, apresentei minha pesquisa num seminário da universidade, fiquei um pouco cansada de sair e encarar as pessoas no bar da esquina. E tudo isso nem chega perto da magnitude do que pude viver.

A felicidade não foi algo constante no meu ano, mas não consigo enxergar meu 2017 como um ano pesado, triste ou ruim. Pelo contrário, foi tudo de bom, com todas as dores, com todos os anseios, com os risos e com os maldizeres. Se uma lição permanece, é de que tudo muda, tudo se faz novo de novo, se refaz sob a imensidão das estrelas que nem sempre enxergamos na escuridão. Nem tudo é o que parece e nem tudo é para sempre.

Nas nebulosidades que me cercaram, e que ainda me cercam, tento entender meu eu, meu passado, meu presente e meu futuro. Pergunto-me, constantemente, sobre minhas missões e evoluções nessa minha curta caminhada. Como ao fim de todos os outros anos, me sinto um pouco mais preparada para encarar as renovações e as novas aventuras que virão.

Se nos últimos anos, via a necessidade de trocar experiências e aprendizados com o outro, vejo agora o quão preciso é absorver todas as energias com calmaria, filtrar com concentração, buscar meu lugar ao sol de forma calma e ponderada. Se há dois anos escrevia aconselhando o meu eu do futuro a abrir as janelas e deixarem novos ventos, escrevo por cautela e serenidade. Respirar fundo é essencial, viver o simples, ouvir uma bossa nova, notar o pôr-do-sol, manter-me firme na terapia, tomar um chá, caminhar por novas ruas sozinha para relembrar a percepção que só a solitude pode nos dar. Fechar as cortinas para limpar o que está no interior também é algo que deve ser feito.

Provavelmente, comprarei uma agenda nos próximos dias e começarei a direcionar algumas mudanças que precisam ser feitas de forma urgente. Encontrarei meus amigos do ensino médio nessa semana para relembrar de que tudo é possível e só rir por algumas horas pensando nas loucuras da vida. Devo fazer minhas malas mais uma vez, encontrar novos lugares, conhecer o mundo de um jeito diferente. Vou continuar dando fôlego para um amor que tem me dado medo e frio na barriga ao mesmo tempo, entregando nas mãos do destino. O que tiver que ser, será. A vida é grandiosa demais para que seja possível entendê-la.

No fim? A vida faz seus rodeios, e tudo se encaixa. E que assim seja eternamente.


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