Eu fui ao psiquiatra
16:22
Há um paradigma em nossa sociedade de que quem vai ao psiquiatra é doido.
Maluco de pedra. Quem nunca disse para um amigo que só um psiquiatra resolveria
o caso dele? É quase cômica a ideia de ser encaminhada à psiquiatria, até isso
acontecer com você. Quando um médico falou que eu deveria consultar um
profissional dessa área, pensei em rir, afinal, eu não sou louca. Certo? Mas
tudo bem, vamos tentar. Está decidido, vou ao psiquiatra e isso será algo para
brincar depois.
A estranheza já começa com o local do consultório. É bem escondido. Num
corredor lateral que eu não sabia que existia até agora. E então veio a sala de
espera/recepção. Pequena, minúscula, um cubículo. Apenas uma atendente, com
jeito de doida também. O ambiente estava entupido, e então meu cérebro começou
a trabalhar na seguinte ideia: psiquiatria é igual a gente louca, que toma
tarja preta. Quais seriam os problemas dos pacientes que se encontravam ao meu
lado?
Tinha um cara, com jeito de ex-viciado, e que estava ali por um trauma
depois de ter visto alguém ser assassinado. Já outra mulher parecia depressiva,
com problemas suicidas. Uma paciente escondia o rosto atrás de óculos escuros
(num lugar que não bate nem um pouquinho de sol) como se estivesse sofrendo por
causa de uma traição do marido com uma mocinha vinte anos mais nova.
Por um segundo, pacientes viraram meus pequenos personagens, até que
pensei: será que eles também não imaginavam coisas à meu respeito? Talvez eu
lhes parecesse uma garota com complexos alimentares, ou que tivesse se cortado
os pulsos por causa de um namoradinho. Na verdade, eu só sou estressada.
Por fim, a consulta não foi tão estranha quanto eu imaginava. Até que o
médico era simpático. Ele me perguntou se estava sofrendo de amor, e foi nessa
parte que eu fiquei com vontade de rir. Fui diagnosticada com Transtorno de
Ansiedade, o que não é uma surpresa, já que não sou exatamente calma.
A realidade é que eu vinha passando por alguns dias nebulosos, e ninguém
é a causa deles, apenas eu mesma. Talvez todo mundo passe por esse tipo de
coisa, afinal, somos humanos. Eu não sou louca, só sou gente.
Uma professora querida disse que temos que esse tipo de situações são
oportunidades divinas para mudarmos o que nos atrapalha na vida. Por que não
aproveitar essa chance? Não tenho a mínima ideia de como conduzir minha vida, e
talvez o meu grande problema seja querer controlar o que não deve ser
controlado. Não sei o que me espera na semana que vem e isso não me importa,
porque está na hora de eu viver o agora.
1 coment�rios
Oi, Duda! Legal ler seu texto, até porque me consulto em psiquiatria há algum tempo. Penso que nunca tive a ideia de que psiquiatra é médico de louco ou algo assim. Precisei há quase três anos passar com um pela primeira vez. Foi só neste ano, porém, que percebi como esse profissional deve ser procurado o mais rápido possível quando sintomas físicos e emocionais inconvenientes começam a se acentuar por conta do estresse do dia a dia. E foi neste ano que percebi o quanto a ansiedade precisa ser controlada. Depois de crises fortes há algumas semanas, incluindo internação, percebi como antecipar situações é um erro cognitivo. A responsabilidade e a busca do viver a vida um momento de cada vez é o foco nos estados de ansiedade. Estou trabalhando nisso. A psicóloga com que passo me emprestou um livro do Augusto Cury, autor que eu respeito por ser um profissional da área médica. Nele, a SPA é tratada com ênfase como assunto: é a Síndrome do Pensamento Acelerado, ligada à ansiedade. Leia o livro se possível. E se cuide mesmo, bucando ajuda profissional sempre que precisar. Acho que é isso. Escreva mais, é bom ler bons textos pessoais com pontos de vista lúcidos como os seus. Abraço! Sidnei
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