Tudo passa: de repente dezoito
14:26
Não sei por onde começar este texto, mas estou aqui porque hoje não é uma data
qualquer. Hoje é o último dia em que terei dezessete anos na vida. Há um ano
escrevia, dissertava sobre o primeiro dia da minha vida que tive dezessete anos.
Entrei com todo o receio que poderia ter acerca dos dias futuros e dizia o
seguinte: “Faço dezessete anos com
todos os medos possíveis, devaneios complexos, e em busca de algo maior que
ainda não encontrei, e também não sei o que é”.
Lembro-me que eu chorei quando assoprei as velas.
As lágrimas correram como correm no rosto de uma menininha que perdeu o anel de
plástico que veio no doce. Ninguém entendeu, mas dentro de mim efervescia um
desespero tão grande que eu achava que não conseguiria suportar. As lágrimas
que correram eram a pura representação do medo, da pressão que só eu sei fazer
sobre mim mesma. Um dos piores sentimentos é aquele que vem quando não se é o
suficiente para si mesmo.
E foi assim que entrei nos meus dezessete anos,
vazia, insuficiente, nem parecia que corria sangue nas minhas veias, porque a
frieza saia do meu coração e me dominava de uma maneira que eu não conseguia
domar. Quando soprei a vela cor-de-rosa, lembro-me de mentalmente implorar só
uma coisinha: felicidade. Felicidade a todo vapor, com todas as cores do
arco-íris, com os sons de uma orquestra sinfônica e se possível, com gosto de
chocolate.
E não é que a felicidade veio? Veio nas amizades
que se fortaleceram, nos apoios que recebi, na ajuda da minha mãe quando me
encontrei desolada no hospital. Aconteceu quando descobri e cresci no
feminismo, no choro de uma premiação muito desejada, em um projeto que
conquistou a minha alma. A tal da felicidade estava escondida até nos momentos
de raiva, onde a discussão com um professor reverberou os meus sentidos, nos almoços
cheios de gelatina, nas piadinhas diárias.
Foram tantos os risos que não dá para medir, segurar nos braços. Porém eles estiveram lá de uma forma indescritível. Estiveram em mim quando via frases de efeito grafitadas nas paredes, naquele metrô que eu pegava no começo da noite de sábado, nos debates acalorados sobre política.
Foram tantos os risos que não dá para medir, segurar nos braços. Porém eles estiveram lá de uma forma indescritível. Estiveram em mim quando via frases de efeito grafitadas nas paredes, naquele metrô que eu pegava no começo da noite de sábado, nos debates acalorados sobre política.
Não sei quem diz que para se encontrar é preciso
se perder antes, mas sábio foi o autor dessa frase. Há um ano, eu estava
perdida em uma bagunça que eu nem sabia de onde tinha vindo, e de uma forma
ainda mais estranha, os livros foram se organizando nas estantes, as roupas
colocadas de volta nos armários, os papéis desnecessários foram jogados fora.
Entre as tantas lições que recebi, aprendi que a vida se encarrega de nos
bagunçar e nos arrumar quando quer, e sortudos somos nós, porque as
experiências entre os extremos da confusão e dos dias certos resultam nas melhores
lembranças que nós poderíamos querer.

Sabe que a vida vai ter que ser enfrentada todos os dias quando levantar
da cama, e que esse processo se repetirá até o fim de seus dias. Como é aquele
provérbio mesmo? Quem está na chuva, está para se molhar. A vida é estranha,
mas é nela que os sentimentos de explosão de tanta alegria acontecerão. Saber
disso só dá mais vontade de viver ainda. Dá vontade de dançar até cansar.
Acredito que os próximos anos têm tudo para serem incríveis. E eles
serão, porque se a gente se propuser a fazer tudo valer a pena, o caminho
diário naturalmente se volta para isso. Ouvirei muitas músicas, contarei as
piadas que ainda não tive oportunidade de fazer, me encontrarei com velhos
amigos para relembrar os dias passados, estudarei como uma louca, verei o sol
se pôr, dormirei até tarde no final de semana, experimentarei coisas novas, mas
principalmente, aceitarei o desconhecido.
Que novas pessoas cruzem o meu caminho, que eu me encontre no papel de
universitária que entrei agora, que os sentimentos sejam sempre intensos, que
eu nunca deixe minhas ideologias de lado, que a vontade de fazer justiça
permaneça pelo resto de meus dias. Contudo, o que espero, principalmente, é que
eu sempre tenha coragem de aceitar que o novo vem e que viver o novo é sempre
bom.
Certa estou de que muito mudará até o meu próximo encontro com essa
reflexão anual. Estou saindo ao sol, recusando os dias escuros, aceitando as
mudanças, buscando um estilo de vida construtivo. Acreditando que há um lugar
para tudo, que tudo se encaixa, que a vida flui e tudo torna para onde deveria
estar.
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