O momento em que as responsabilidades batem na porta: o que será de mim?

11:47


Eu não deveria estar escrevendo este texto. Deveria estar estudando. Deveria estar lavando as minhas roupas, deveria estar lavando a louça que acumulou na pia de ontem para hoje. Mas estou aqui porque eu preciso escrever. Estou aqui porque o meu coração está um pouco inchado de sentimentos e talvez seja a hora de tentar transformá-los em palavras.
Como a vida é engraçada, não? Acordei hoje, pleno sábado, sete horas da manhã, com preguiça, mas precisava levantar, tinha roupas para lavar, um banheiro para limpar, comida para fazer, provas complicadas para estudar. Olhei pela janela, e vi as pessoas chegando para trabalhar, o ônibus passando com meia dúzia de passageiros, uma senhora com um saco de pão caminhando vagarosamente. E então, se você começa a pensar, descobre que as responsabilidades estão vindo a pleno vapor.

Se a roupa não for lavada, não haverá roupa alguma para ser usada. Se a bunda não se levantar da cadeira e for fazer almoço, não terá nada para ser comido e se você passar fome, bem, é só sua culpa. De repente, aquela poeira acumulada lhe irrita e se você não limpar, aquilo vai te perturbar. E foi no meio dessas reflexões que eu parei e pensei: “Quando a vida começou a passar tão rápido?”.

E então você percebe que os doces dias do ensino médio passaram, e que aquelas discussões sobre o futuro que ocorriam tão frequentemente são passado, porque você está começando a viver todas as hipóteses que tinha formulado anteriormente. Não da forma como você tinha imaginado, mas de um modo estranhamente complicada. O banco é do outro lado da cidade, e você é obrigada a ir até lá porque tem contas a pagar, coisas que nunca eram feitas com seus pais por perto.

É na correria das novas obrigações, que eu parei para pensar no que estava acontecendo na minha vida há um, dois, três anos. Comecei a lembrar dos planos que fiz, das ideias que acreditei, das coisas bobas que passaram por mim. Chega até ser engraçado. Lembro-me dos intervalos das tarde que íamos tomar sorvete na pracinha, usar os balanços só por graça, bater um papo de gente descolada. Sentíamo-nos todos adultos.
A vida era difícil, a gente sabia, mas por não ter a noção real do peso, tudo era possível de ser feito. Iríamos viajar, estudar na mesma universidade, ter uma grande república. Também viveríamos grandes momentos de amor, daríamos a volta no mundo. Quando você tem quinze anos você acredita que pode fazer tudo, que a dificuldade não é tão grande assim.



Não que eu seja muito velha. Tenho apenas dezoito anos. Só que aos dezoito, a realidade já começa a bater na porta. Você sabe que algumas coisas terão de ser vividas e que não é tão fácil assim, e nem tão barato. Os planos, sonhos e desejos mudam. A verdade é que a vida é esquisita. Um dia acordamos e vemos que muita coisa já foi e não é mais, e nunca mais será. Os momentos morrem todos os dias. 

E então eu me lembro de todas as pessoas que pareciam infelizes e que eu via diariamente. Lembro-me de pensar que eu não deixaria a vida me abater e faria o que fosse necessário para ser feliz, que eu nunca me acomodaria com nenhuma situação. Doce ilusão.
Os planos de juntar uma grana são adiados todos os meses, porque de algum modo muito louco, o dinheiro foi como água. Agora você entende porque sua mãe procurava as promoções do mercado e também entende o porquê dela não deixar você comprar a bolacha mais cara. Nunca imaginei que um real faria diferença no final do mês, mas faz.
Os planos de dar a volta ao mundo também são guardados em uma caixinha porque como você vai largar toda a sua vida para sair arriscando por aí? Correr riscos parece uma delícia, mas acabamos enroscados no cobertor, em plena noite de sábado, pensando em riscos que nos abstemos de viver todos os dias.

E então você se acostuma. Acostuma com acordar cedo e reclamar de ter essa obrigação. Acostuma a fazer os mesmos caminhos todos os dias, ir aos mesmos lugares, conversar com as mesmas pessoas, debater os mesmos temas. Quando algo sai da rotina, você se irrita consigo mesmo, porque você sabe que se a maldita rotina for quebrada, o resto do mês acaba dando errado. Talvez o semestre dê errado, ou até o ano. Lá no fundo, esperamos que não seja a vida que dê errado e em alguma hora, possamos recomeçar para consertar aquela pequena quebra de rotina que virou uma bola de neve.
De repente, você vai ao mercado e tenta ignorar as prateleiras de doces, indo até as frutas. Se você não se alimentar bem, você vai parar no hospital. E nessa nova vida, quem tem tempo para ficar doente? Ficar doente significa perder coisas importantes que atrasarão o que você precisa fazer. Ficar doente significa ficar sozinha, olhando para o teto, irritada por você estar naquele estado.
Todos os dias você planeja dar aquela caminhada no final da tarde, em uma tentativa falha de eliminar o stress, já que não tem grana sobrando para fazer academia. E todos os dias, você acaba não indo, porque a vida passa rápido de mais, e uma hora por dia para se exercitar é coisa rara de acontecer.
Então, no final da tarde de uma sexta, você abre a porta da sua casa, encontra uma bagunça desenfreada, e tem vontade de gritar, porque você não pode jogar tudo para o alto e ir dormir. Quer dizer, em alguns dias, isso acontece, mas quando você acorda, uma crise chata de consciência está lá para lhe lembrar de que se você continuar fazendo coisas como essa, você será um fracasso na vida.
O futuro é um grande buraco negro e você vai vivendo sem pensar muito, porque se o presente já é capaz de lhe deixar louca, imagina se insistir muito nas reflexões sobre o futuro?
De algum modo muito estranho, você começa a sentir o peso das responsabilidades e sabe que tudo que você fizer, será por você e apenas por você. A grande pergunta permanece e te assusta todos os dias: “O que será de mim?”. De certa forma, você espera que dê certo, que algo se encaixe, que isso de ser perdido pare em algum momento. E você torce para que a monotonia não seja eterna.

Eu não sei o que vai ser de mim, essa é a verdade. Ando um pouco assustada, confesso. Mas sei que a história da minha vida é o meu pequeno solo diante do universo, e que eu posso usar as notas do modo que quiser. Só espero que ao fim a música toque, faça sentido e deixe um legado da história de uma garota meio perdida que queria dar certo. 

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