Para Marina

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Passos, 28 de agosto de 2019

E aí, Marina, como é que tá por aí?
           
Eu não sei se você se recorda, mas no dia 27 de agosto de 2017 você me respondeu uma carta antiga que escrevi para você quando eu ainda usava canetas roxas cheirosas. Caso você não se lembre, o Facebook (além de roubar nossos dados) tem um mecanismo ótimo: entre no meu perfil, clique nas reticências à direita, vá em “Ver amizade” e verá o que compartilhamos nessa rede social nos últimos anos. Como você demorou cinco anos para me responder, eu acho que eu tenho quase a licença poética para demorar dois.

Ao reencontrar sua carta nas minhas lembranças do Facebook, devo admitir que eu fiquei ligeiramente emocionada. Eu já nem sei o que tem em mim da Duda de catorze anos. Talvez a loucura, mas devidamente canalizada. Eu era uma garota que morria de medo das pessoas, da vida, de quem estava ao meu redor, e pensar nesse meu eu do passado, me faz pensar também que você  foi uma pessoa que me ensinou a se importar menos com coisas que não valiam a pena, ainda que eu não entendesse muito bem isso em 2011.
            
Você é uma das poucas lembranças boas de uma época que eu não me sentia bem sendo quem eu era. E eu sou grata por isso. Por todas as vezes que a gente sentava no fundo da sala e revirávamos os olhos para meia dúzia de coisas, quando você ouvia o que eu escrevia (mesmo que fosse para dar risada depois) ou de quando você me aloprava porque tinha açúcar no meu nariz depois de comer sonho na cantina. Eu continuo amando sonho, é um dos meus doces preferidos. Uma das lembranças que eu tenho mais firme de você em minha memória é do dia do meu aniversário de quinze anos. Sabe-se lá porquê, mas eu meio que sei exatamente como foi teu abraço aquele dia.
           
Tô escrevendo essa carta enquanto ouço uma das músicas melosas que ouvia no meu Corby laranja enquanto ficava no Tumblr naquela biblioteca sem-graça daquele colégio que me irritou. Foi muito bom reler a sua carta, principalmente nesse momento da minha vida, onde tudo parece um grande limbo sem muita graça, mas com muita responsa.
            
Para falar um pouco da minha vida: eu sou quase uma menina formada agora (alô, último período da faculdade. Se você precisar de uma advogada num futuro próximo, me dê um salve, eu juro que tiro você da cadeia por conta da casa. Alguns dias eu me pego perguntando como é que teria sido minha vida se eu tivesse ido fazer Ciências Sociais na USP, se o nosso reencontro já tivesse se desenhado, mas aí eu lembro que a UEMG é o meu lar como nenhum outro lugar poderia ter sido. Aqui é um universo tão paralelo e um mundo tão invertido que eu sou, simultaneamente, a pessoa louca dos movimentos sociais que fica gritando nas paralisações e greves e a pessoa que faz as festas da atlética e curte jogos universitários. Apesar de isso ser um combo muito doido, acho que as pessoas gostam um pouco de mim.
           
Eu tenho passado os últimos dois anos e meio trabalhando como bartender em uma balada aos finais de semana (meu mojito é maravilhoso) e isso, definitivamente, não era uma coisa que nossas versões de quinze anos conseguiriam imaginar. Vivi uma série de romances meia boca, uns mais intensos, outros mais bobos, conheci um monte de gente, aprendi mil e uma coisas e eu meio que sinto que minha vida faz um pouco de sentido, mesmo com toda a confusão.
            
A gente precisa beber uma cerveja juntas. Sentar em algum bar qualquer por aí, pedir uma dose de cachaça, falar besteiras, contar sobre os caminhos que andamos nos últimos anos, quais bobagens fizemos, quais aventuras vivemos e quais merdas aconteceram. Você transformou a minha vida, Marina. Com seu sarcasmo, seu pessimismo, suas piadas, suas risadas doidas e sua paciência comigo. O que você tem feito? Você virou uma intelectual metida da FFLCH? Tem se apaixonado por alguém, por alguma coisa nos últimos tempos?
            
Eu sinto sua falta. Tenho a leve impressão que se a gente conseguiu encaixar nossos eus de 2011, as nossas versões de vinte e poucos anos têm um potencial sem dimensões. É aquele lance astrológico entre áries e sagitário que eu sempre acreditei e você me zoava. Eu te amo, Ma. Pra valer. Sempre vai ter um espaço aqui no meu coração com o teu nome. A gente se encontra qualquer dia desses, seja em São Paulo, Atibaia ou qualquer outro lugar do mundo. Tá tudo bem se você demorar cinco anos para responder outra vez.

Trate de se cuidar, beijos
Da sua antiga e doida amiga,
Duda

p.s.: Perdoa a escrita com erros e discordâncias, agora é uma da manhã de uma terça feira e eu já deveria estar dormindo para uma aula chatíssima de Direito amanhã cedo.

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