Eu sou uma coletânea de dias memoráveis
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Há tempos que não sinto essa vontade tremenda de escrever, de usar as palavras para olhar para dentro de mim e repensar o mundo outra vez. É meu primeiro dia em uma nova cidade, em um novo momento da minha vida. Parte de mim sente que esse foi o dia que eu estive ansiando desesperadamente desde a época que eu tinha quinze anos e pegava dois ônibus para ir ao colégio.
Já disse várias vezes que uma das coisas mais louca desse mundo é eu estar exatamente no lugar que eu sonhei quando eu nem entendia muito bem o que eu desejava. Acho que essa é a palavra: desejo. Passei tanto tempo desejando, querendo, ambiciosa por um futuro que eu não sabia muito bem como seria.
No meu discurso de formatura, eu falei muito sobre o tempo, sobre como um dia você está planejando o futuro e sem que perceba o futuro é hoje, e de repente o futuro já se foi também. Ainda me atrevo a citar Charles Dickens, que escreveu um punhado de palavras que me tocam todas as vezes que eu penso na minha existência: "Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim". Eu sou uma coletânea de dias memoráveis.
Eu nunca achei que chegaria o dia que eu agradeceria por estar viva, por sentir o vento da manhã no meu rosto, por ver o sol nascer pela primeira vez na cidade que acabei de chegar. Em alguma medida, sinto que se minha vida fosse um filme, esse momento poderia ser o meu feliz para sempre, para além de qualquer hedonismo barato.
Eu nunca me senti tão amada por mim mesma, o que me faz pensar que os bons tempos de terapia, de dias equivocados, de desencontros e desacertos foram fundamentais para eu estar aqui hoje, meio que pronta para o mundo e me sentindo profundamente apaixonada por mim mesma. Ontem, ao despedir de minha mãe com um abraço, eu senti como se meu coração se conectasse com ela de uma forma tão profunda que nada seria capaz de suplantar todo aquele sentimento. Neste exato momento, sentada em um banco gélido, parte do meu eu sente algo muito semelhante: eu nunca estive tão conectada comigo mesma, com a minha história. E aparentemente, nada poderia ser mais surpreendente do que isso.
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