Que bom me ver viva!
12:05[Aviso: Abordagem de temas relativos a ideação suicida]
Tem dias que eu acordo pensando como é que eu vou viver a
minha vida com tanta ansiedade, o que soa um pouco contraditório, já que cada
linha de pensamento que se traça na minha cabeça tira um pouco da minha vontade
de viver. Não sei se é culpa do que penso,
se é um defeito do meu cérebro ou se eu fiz isso comigo mesma. Não sei.
se é um defeito do meu cérebro ou se eu fiz isso comigo mesma. Não sei.
Todos os dias eu perco um bom conjunto de minutos pensando sobre o que eu sou e porque sou. Às vezes esses minutos viram horas, que depois viram dias, e de modo descontrolado se tornam semanas e meses, e então eu já me perdi de tudo que eu pretendia fazer ou construir.
É muito doloroso sentir tanta insuficiência. Como diria uma
pessoa que eu admiro, o fracasso me subiu à cabeça.
O fracasso, para além de uma realidade, é um sentimento. Uma mentira que se dá como verdade antes mesmo que o primeiro passo seja dado, tanto pra levantar da cama quanto pra fazer a revolução, ou qualquer outra coisa que esteja entre esses dois extremos. Tem dias que eu me pego pensando como é que eu acabei com tanta dor dentro de mim e o que foi que eu fiz de errado pra me sentir tão machucada. E ninguém entende.
O fracasso, para além de uma realidade, é um sentimento. Uma mentira que se dá como verdade antes mesmo que o primeiro passo seja dado, tanto pra levantar da cama quanto pra fazer a revolução, ou qualquer outra coisa que esteja entre esses dois extremos. Tem dias que eu me pego pensando como é que eu acabei com tanta dor dentro de mim e o que foi que eu fiz de errado pra me sentir tão machucada. E ninguém entende.
Afinal de contas, todo mundo já se sentiu triste um dia, certo? E todo mundo tem dias ruins também. Porque eu pareço ser a única que não consegue se levantar da cama? Que não consegue deixar os dias ruins irem embora? Que se sente a pessoa mais triste do universo, como se essa tristeza fosse uma mala pesada a ser carregada pelo resto da vida.
É muito difícil falar em ansiedade, porque em tempos de tanto caos, é uma palavra que parece ter ganhado uma banalidade imensurável. Se digo que tive uma crise de ansiedade, não significa muito. Não sei o que quem ouve pensa. O que eu sempre vejo escrito em letras garrafais na testa de quem me ouve falar sobre ansiedade é de que não é nada demais. Que todo mundo tem ansiedade. Que é normal.
O que ninguém sabe é como eu perdi a fome durante todos os dias do último mês, e como eu vomitei quase todo o resto que eu me forcei a comer. O que ninguém vê são as madrugadas em claro, se esvaindo pelas minhas mãos, onde eu choro até meus olhos ficarem inchados e não existir mais lágrima alguma. O que ninguém nota são todas as horas que eu destrinchei mil e uma maneiras de me matar porque eu não consigo mais ter forças para viver.
É muito difícil falar sobre minha vontade de morrer. Sobre quando eu tentei suicídio e acabei na emergência vomitando sangue no chão, gritando com a enfermeira e pedindo a Deus pra me levar desse mundo. Sobre quando eu tomei todos os remédios que tinham dentro da minha casa e quase tive um infarto. Sobre todas as vezes que eu machuquei minha mão socando a parede, me mordi até sangrar ou arranquei, literalmente, cabelos da minha cabeça. As pessoas só ouvem a dor de alguém quando ela, de fato, se mata.
Eu tenho medo de dar risada, de me divertir, de ser feliz, porque como é que uma pessoa que diz ter ansiedade e vontade de morrer pode rir? Eu tenho medo de me apaixonar, de me amarem, porque como é uma pessoa que tentou suicídio pode amar e ser amada? Eu tenho medo de sair de casa e alguém questionar tudo o que sinto e que me dói, porque como alguém que está de fato mal pode levantar da cama?
De um modo inesperado, eu sobrevivi, e tenho sobrevivido. Sinto-me como um jogo de dominó, que é delicadamente enfileirado para que quando for o momento certo, derrubar a primeira peça e com toda a construção trabalhosa, chegar ao objetivo final. As crises de ansiedade são como um pequeno monstro que derruba as peças do meio do trajeto e que me impedem de viver.
Mas tudo bem, não é porque as peças foram derrubadas uma vez que não dá pra reconstruir, certo? Então, no meio do trajeto, o monstro da ansiedade aparece de novo, e de novo e de novo. Nada do que é construído fica em pé ou se mantém. E quando já não há forças para levantar novas peças, o tal do monstro passa a engolir as peças e o jogo não está mais completo e o sentido se foge completamente, e não há mais nada para ser vivido.
Todos os dias, em algum momento, eu olho para o céu e tento ter fé de que tudo vai se encaixar, de que tudo vai dar certo em algum ponto, de que é só uma fase, de que todo o cansaço e toda a exaustão se findarão antes que minha vida tenha um fim. Alguns dirão que tudo que eu falei é exposição demais, exagero demais, ou não levarão a sério. Mas eu preciso gritar sobre como tenho lutado para ficar viva.
Sobreviver talvez seja a tarefa mais difícil que enfrentei e enfrentarei em toda a minha vida. Tem dias que minha tristeza é grande porque eu sinto que sobreviver me consome tempo demais para que eu faça qualquer outra coisa, o que gera um ciclo vicioso sem fim. Não sei se existe uma predestinação divina que fará essa dor ser útil um dia.
Eu poderia ficar horas falando sobre tudo o que senti e sobre todas as dores que dominam o meu ser. A verdade é que existe muito para ser lutado, ser pensado, construído. Não sei o que será de mim, mas eu tenho sobrevivido, e isso é um fato a ser celebrado. Diante de tudo que poderia ter acontecido, eu estou viva.
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